domingo, 15 de dezembro de 2013


Clemente de Alexandria
Autora-Kim nataraja
     A maneira como os primeiros Padres da Igreja enxergam a conexão entre nossa Marta e nossa Maria, entre o “ego” e o “eu próprio”, nossa Centelha Divina, é mais bem ilustrada nos ensinamentos de Clemente de Alexandria (150-215). Sabemos muito pouco sobre Clemente de Alexandria, como é o caso da maioria das figuras notáveis nestes primeiros séculos do cristianismo. Ele nasceu por volta de 150 dC, provavelmente em Atenas, pois era totalmente familiarizado com a cultura e a literatura gregas. Sabemos que seus pais eram pagãos e que estudou Filosofia em Atenas. Clemente era uma pessoa que alcançou a fé mais tarde. Ele era um convertido. Como muitos jovens indagadores de sua época, ele viajou muito e explorou várias escolas. Algum tempo antes de chegar a Alexandria, ele descobriu o cristianismo. Seu desafio era entender o Cristianismo no contexto da sua própria educação grega. Ao fazê-lo tornou-se o primeiro filósofo-teólogo cristão que tentou expressar a experiência mística e a relação entre a alma humana e o Divino.

     Como o Reverendo Professor Andrew Louth explica em seu capítulo do livro “Journey to the Heart” "O insight fundamental de Clemente (...) é um senso de interioridade humana, um senso de que o que realmente somos está escondido dentro de nós e, portanto, precisa ser ativamente buscado. O primeiro passo para saber qualquer coisa é, portanto, conhecer a si mesmo; assim começa uma viagem de auto-descoberta. O 'eu' é a 'alma', embora em Platão e Clemente uma palavra mais específica é usada, a saber: ‘psique’ que significa ‘força da vida’. Eles foram tentados a ir tão longe quanto afirmar que somos almas que habitam corpos. Eles não negam que somos almas e corpos, mas a essência do que verdadeiramente somos é encontrado na alma.”

    Os gregos acreditavam que o ponto mais alto da nossa alma era o "nous", a nossa maneira intuitiva de compreender a realidade  Clemente interpretou isto em termos cristãos como a "imagem de Deus" dentro de nós, onde somos “como” Deus e podemos, portanto, relacionar-nos com Ele. Como Andrew Louth continua a explicar: “A palavra 'nous' é difícil de traduzir. A tradução normal para a Língua Inglesa é o ‘intelecto’, mas o problema com a palavra 'inteligência' nesta língua é que ela não transmite o que significava para os gregos. Para Platão o ‘nous’ ou a alma estava bem no centro do que significa ser humano. ‘Nous’ inclui uma capacidade intelectual, mas era mais do que isso, era ter uma noção do valor real das coisas, conhecer a Verdade. De fato, o nosso ‘nous’ é o nosso ponto de contato com Deus. Platão tinha a ideia de que a alma ou o ‘nous’ tanto pode preocupar-se com o mundo de inconstante realidade em que vivemos, como pode tentar ver o que está por trás dessa realidade e tentar descobrir a própria natureza da Verdade.... E ao fazê-lo, duas coisas acontecem. Em primeiro lugar, entramos nessa Realidade mesma, que nos permite julgar as coisas diretamente e corretamente. Em segundo lugar, descobrimos quem realmente somos. Descobrimos em nós um centro que é capaz de se relacionar com a Realidade em si, que não é distraído pelas coisas deste mundo. Não é tentado a construir uma imagem do mundo que é na verdade apenas a nossa própria construção, a maneira como gostaríamos que as coisas fossem... Lá somos seres puramente espirituais, seres totalmente livres, e estes ele vê como reflexos de Deus.

   O
 ‘nous’ também é visto como ‘o órgão de oração’, enfatizando que a oração/meditação que conduz à oração silenciosa profunda é o caminho para um ‘compromisso’ com a verdadeira Realidade que é Deus.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário