domingo, 15 de dezembro de 2013

São Paulo,  21 de novembro de 2013-12-09
                 Queridos amigos,
Começo a escrever esta carta em São Paulo, do Arsenal da Esperança. 
   O primeiro pensamento que me sai do peito é agradecer, pensando quanto de bom recebemos no Brasil. Dom Helder Câmara nos amou e nos viu com os olhos de Deus quando ainda balbuciávamos. Depois Dom Luciano Mendes de Almeida que tanto nos amou também e nos olhou com os olhos de Deus desde o inicio.
 É um momento ainda presente porque os meus, os nossos queridos amigos Lorenzo, Simone, Gianfranco e Marco estão ainda no Brasil e odoram de Cristo. São diferentes um dos outros, mas todos têm o sabor de Cristo.
   Do Brasil vejo tantos amigos que possuem o mesmo sabor em Turim, na Jordânia e pelo mundo afora.
Gostaria que cada um de nos, caros amigos, qualquer que seja a nossa idade, nossa condição de casados ou de consagrados, tivesse o sabor de Cristo. Esta carta é para agradecer convosco a Deus Pai, porque e nos deu Jesus, para ajudar-nos. A ajudar-nos a ser o perfume de Cristo.

    Aqui mesmo no Brasil, compreendi fisicamente o quanto o mundo corre para o mal. Uma parte do mundo se fez um deus para o próprio tamanho, uma imagem, uma projeção das próprias vontades, dos próprios egoísmos.
   Mas Deus é Deus. Aqui mesmo no Brasil, repito com força nos queremos viver no Deus vivente, no Deus da Escritura, na sua presença a cada momento.
   As máfias do poder que vivem em tantos palácios, na sombra, acreditam poder fazer o que querem: Podem fazê-lo, mas somente no mal.
   Às vezes usam Deus só para confundir e odeiam quem fazem o bem, não os suportam.
   Mesmo nos momentos de medo sinto que o melhor de nós ainda deve surgir e que aquilo que vivemos até agora é somente a ponta de um iceberg submerso.
Penso em quanto o Deus Pai está contente de haver apostado em nós, na nossa boa vontade, no nosso sim.
   Talvez possamos ainda crescer em numero, tornar-nos muitos; mas o nosso segredo é de ser sempre pequenos frente a Deus: ir dois a dois, sem alforje, sem segurança, não fortes, mas apaixonados por Deus, deixando-nos amar por Ele.
   Não podemos cair na armadilha de pensar que o nosso sim, de casados, consagrados de jovens, adultos, anciãos, de padres seja o sim que nos tranqüilize.
   Muitos vivem o sim que não tem um “Além”
   Então é uma armadilha. Faz-te viver no teu pequeno respiro, no teu pequeno canto.

   Aquilo que vejo é um sim que vai além quando percebe viver numa imensidão de mente e do coração. Aquele sim-além não teme nada. Transforma em oportunidade qualquer tragédia que a vida nos apresenta.
   É o sim dos amigos que em qualquer lugar estejam, são disponíveis. Vivem perenemente frente ao Além que vai para o além da segurança, da certeza, um além que nada e ninguém nunca poderá tolher.
   É o sim do Senhor que me diz desejar que o meu sim nunca encontre segurança.


   Somente experimentando o além percebemos quanto seja sufocante o sim-armadilha.
   O Sim além nos faz viver um amor sem fronteiras. Nunca estamos realizados como quer fazer-nos crer o sim armadilha. Ninguém está realizado em quanto existirem tragédias, guerras, dor, violência.
   Somente o sim-além nos faz ouvir as pessoas, uma a uma, como se fossem a única, a bater nossas portas e pode nos contaminar e nos levar à morte.
   Oferecemos para dormir a muitíssimas pessoas, mas não temos lugar para todos aqueles que nos procuram.
   Choramos por aqueles que não podemos atender e a gente não se sente bem só porque mais de mil entraram e nesta noite dormirão amparadas.
   Choramos pelo único que ficou fora. Levamos ao Pai nosso pranto e choraremos, até quando o mundo inteiro não estará no sim, até que cada cristão, cada homem de boa vontade não se deixará habitar pelo além. Choraremos até quando alguém que sofre ficar do lado de fora sem ser consolado.
   Todas as vezes que devolvemos as nossas forças quando não as temos, a esperança quando não a temos, percebemos que o Senhor quer aumentar a nossa vela. Ele mesmo quer tornar-se vela a nos levar, fazer-nos sentir o vento do seu Espírito que nos empurra além para que descubramos que a felicidade só existe no fazer os outros felizes.
   O Senhor nos olha e acredito que diga: “Fiz bem em apostar neles”.
Ser olhados por Ele é a maior felicidade. Como gostaria que todos pudessem dizer: Entendi que não podemos ser felizes sozinhos e que cada tristeza, cada angustia pode transformar-se numa oportunidade, se eu confiar e for além!
Além de mim próprio, além de minhas forças. Além!
Nosso “Além” está em Deus que nos sacia com seus consolos, nos faz participar da sua glória (Is 66-10-13). O nosso além está com Jesus que nos assegura:
“A glória que você me deu eu a dei a eles porque somos um como eu e o Pai somos um” (Jo17.22)
    Queria que fosse o nosso desejo mais intimo neste tempo que nos separa do 8 de dezembro e do Natal. O melhor modo para entrar na síntese da nossa historia: tornarmo-nos simplesmente cristãos.
Nossa historia é a coisa mais bela que podia acontecer.
Não a transformemos em rotina, habito, pretensão, sermão.
Aprendamos cada vez mais a servir-nos entre nós, a lavarmos os pés uns aos outros. Nos fatos. Fazê-lo com palavras nos leva à hipocrisia que já fez perecer tantas vocações e pode destruir também as nossas. Aprendamos a viver no estupor: cada dia é um novo dia, o esperamos para amá-lo, para envolvê-lo de preces e tantos gestos. Somos patrimônio de Deus. Gostaria que Ele pudesse estar contentes conosco, de nós famílias, de nós consagrados, de nos jovens, de nos adultos, queria que pudesse comover-se, conosco por que cada um coloca tudo de si na procura de servir, abertos 24 horas em 24 horas para Ele, realmente só pra Ele.
Caros amigos, estamos vivendo uma aventura de Deus. Graças a Deus vos vejo incansáveis. Sempre cansados, mas felizes, estou comovidos com vocês. Com este espírito vos abençôo, pedindo a Deus e a vocês que me abençoem, com o mesmo espírito.
    

*Ernesto Olivero é o fundador do Sermig. Com o trabalho de jovens voluntários consegue acolher milhares de moradores de rua em varias cidades do mundo. Em São Paulo o Arsenal da Esperança é dedicado a Dom Luciano Mendes de Almeida: acolhe diariamente 1200 moradores em situação de rua 
     O original da carta em italiano, a tradução é do Ora et Labora

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